ANTES A REVOLTA COM MEDO....DO QUE O MEDO DA REVOLTA....victor serra
ANARQUISTA

Anarquismo é a teoria libertária baseada na ausência do Estado. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceite defendendo tipos de organizações horizontais e libertárias.
Para os anarquistas, a Anarquia significa ausência de coerção, e não ausência de ordem.
Uma das visões do senso comum sobre o tema é na verdade o que se denomina por "anomia", ou seja, ausência de leis. Existe em torno desta questão um debate acerca da necessidade ou não de uma moral anarquista, ou se a natureza humana bastaria por si só na manutenção pacífica das relações.




Emídio Santana


Nasceu em Lisboa a 4 de Julho de 1906, filho de um serralheiro mecânico filiado no Sindicato Metalúrgico. Cresceu num ambiente muito influenciado pelo movimento associativo operário e socialista e, devido às dificuldades económicas familiares, começou a trabalhar como aprendiz de carpinteiro de moldes aos 14 anos. Filiou-se imediatamente no Sindicato dos Metalúrgicos e, em 1924, nas Juventudes Sindicalistas, de índole anarco-sindicalista. A sua intensa actividade sindicalista levou-o à prisão pela primeira vez em 1928, tendo sido libertado no mesmo ano. Foi condenado novamente a um ano de prisão em 1933, sendo deportado para os Açores. Participa no reaparecimento clandestino do jornal A Batalha e no atentado a Salazar do dia 4 de Julho de 1937. Refugia-se na Grã-Bretanha, mas é entregue à polícia política portuguesa pelas autoridades britânicas. Cumpre pena na Cadeia Penitenciária de Coimbra até 1953, altura em que passou a dedicar-se a actividades cooperativas. Desiludido com a partidarização e burocratização dos sindicatos, trazidas pelo 25 de Abril, empenhou-se no ressurgimento do jornal A Batalha.
Morreu em Lisboa no dia 16 de Outubro de 1988.
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José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos.
Nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso, juiz, e de Maria das Dores.
Em 1930 os pais foram para Angola, onde o pai tinha sido colocado como delegado do Procurador da República em Silva Porto. José Afonso permanece em Aveiro, na casa da Fonte das Cinco Bicas, por razões de saúde, confiado à tia Gegé e ao tio Xico, um «republicano anticlerical e anti-sidonista».

http://joseafonso-1.blogspot.com/

Por insistência da mãe, em 1933 Zeca segue para Angola, com três anos e meio, no vapor Mouzinho, acompanhado por um tio advogado em lua-de-mel. Um missionário é a companhia de José Afonso que permanece três anos em Angola, onde inicia os estudos da instrução primária.
Em 1936 regressa a Aveiro, para casa de umas tias pelo lado materno.
Parte em 1937 para Moçambique ao encontro dos pais, com quem vive juntamente com os irmãos João e Mariazinha.
Regressa a Portugal, em 1938, desta vez para casa do tio Filomeno, presidente da Câmara Municipal de Belmonte. Aqui conclui a quarta classe. O tio, salazarista convicto, fá-lo envergar a farda da Mocidade Portuguesa.
Vai para Coimbra em 1940 para prosseguir os estudos. É matriculado no Liceu D. João III e instala-se em casa da tia Avrilete. No liceu conhece António Portugal e Luiz Goes. A família parte de Moçambique para Timor, onde o pai vai exercer as funções de juiz. Mariazinha vai com eles, enquanto seu irmão João vem para Portugal.
Com a ocupação de Timor pelos Japoneses, José Afonso fica sem notícias dos pais durante três anos, até ao final da II Guerra Mundial, em 1945.
Nesse mesmo ano começa a cantar serenatas como «bicho», designação da praxe de Coimbra para os estudantes liceais (José Afonso andava no 5.º ano do liceu). Era conhecido como «bicho-cantor», o que lhe permitia não ser «rapado» pelas «trupes». Vida de boémia e fados tradicionais de Coimbra.
 De 1946 a 1948 completa o curso dos liceus, após dois chumbos. Conhece Maria Amália de Oliveira, uma costureira de origem humilde, com quem vem a casar em segredo, por oposição dos pais. Faz viagens com o Orfeão e com a Tuna Académica. Joga futebol na Associação Académica de Coimbra.
Em 1949 inscreve-se no primeiro ano do curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras. Vai a Angola e Moçambique integrado numa comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.
Em Janeiro de 1953 nasce-lhe o primeiro filho, José Manuel. Dá explicações e faz revisão no Diário de Coimbra. São editados os seus primeiros discos. Trata-se de dois discos de 78 rotações com fados de Coimbra, editados pela Alvorada, dos quais não existem hoje exemplares. Os dois discos foram gravados no Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional.
 De 1953 a 1955 cumpre, em Mafra, serviço militar obrigatório. Foi mobilizado para Macau, mas livrou-se por motivos de saúde. Depois é colocado num quartel em Coimbra. Tem grandes dificuldades económicas para sustentar a família, como refere em carta enviada aos pais em Moçambique. A crise conjugal é muito sentida. Após o serviço militar, já com dois filhos, José Manuel e Helena (nascida em 1954), conclui em 1963 o curso na Faculdade de Letras de Coimbra com 11 valores com uma tese sobre Jean-Paul Sartre: «Implicações substancialistas na filosofia sartriana».
Vai dar aulas num colégio privado em Mangualde em 1955/56. Inicia-se o processo de separação e posterior divórcio de Amália (1 de Junho de 1963). José Afonso manterá uma névoa de silêncio em redor desta sua experiência conjugal.
Em 1956 é editado o seu primeiro EP, intitulado Fados de Coimbra. Em 1956/57 é professor em Aljustrel e em Lagos.
Por dificuldades económicas, em 1958 envia os dois filhos para Moçambique, para junto dos avós. Neste ano fica impressionado com a campanha eleitoral de Humberto Delgado. Digressão de um mês em Angola da Tuna Académica. José Afonso é o vocalista do Conjunto Ligeiro. «Actuámos vestidos com umas largas blusas de cetim, cada uma de sua cor, imitando a orquestra de "mambos" de Perez Prado, o máximo da altura», conta José Niza.
Em 1959 começa a frequentar colectividades e a cantar regularmente em meios populares.



Em 1960 é editado o quarto disco de José Afonso. Trata-se de um EP para a Rapsódia, intitulado Balada do Outono.
De 1961 a 1962 segue atentamente a crise estudantil deste último ano. Convive em Faro com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa e Pité e namora com Zélia, natural da Fuzeta, que será a sua segunda mulher.
Em 1962 é editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal, pela Monitor, dos Estados Unidos, com «Minha Mãe» e «Balada Aleixo», onde José Afonso rompe definitivamente com o acompanhamento das guitarras. Nestas duas baladas é acompanhado exclusivamente à viola por José Niza e Durval Moreirinhas.
Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia, integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.
Em 1963 é editado outro EP de Baladas de Coimbra.
Em Maio de 1964, José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção «Grândola, Vila Morena», que viria a ser no dia 25 de Abril de 1974 a senha do Movimento das Forças Armadas (MFA) para o derrube do regime ditatorial.
Nesse mesmo ano é editado o EP Cantares de José Afonso, o único para a Valentim de Carvalho.
Também em 1964 é editado, pela Ofir, o álbum Baladas e Canções, que virá a ser reeditado em CD pela EMI em 1997.
De 1964 a 1967, José Afonso encontra-se em Lourenço Marques com Zélia, onde reencontra os seus dois filho. Nos últimos dois anos, dá aulas na Beira. Aqui musicou Brecht na peça A Excepção e a Regra.
Em Moçambique nasce a sua filha Joana (1965).
Em 1967 regressa a Lisboa esgotado pelo sistema colonial. Deixa o filho mais velho, José Manuel, confiado aos avós em Moçambique.
Colocado como professor em Setúbal, sofre uma grave crise de saúde que o leva a ser internado durante 20 dias na Casa de Saúde de Belas. Quando sai da clínica, tinha sido expulso do ensino oficial. É publicado o livro Cantares de José Afonso, pela Nova Realidade. O PCP convida-o a aderir ao partido, mas José Afonso recusa invocando a sua condição de classe. Assina contrato discográfico com a Orfeu, para quem grava mais de 70 por cento da sua obra.
Expulso do ensino, em 1968 dedica-se a dar explicações e a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem Sul, onde é nítida a influência do PCP. Pelo Natal, edita o álbum Cantares do Andarilho, com Rui Pato, primeiro disco para a Orfeu. O contrato é sui generis: contra o pagamento de uma mensalidade (15 contos), José Afonso é obrigado a gravar um álbum por ano.
Em 1969 a Primavera marcelista abre perspectivas de organização ao movimento sindical. José Afonso participa activamente neste movimento, assim como nas acções dos estudantes em Coimbra.
Ajuda a fundar o Circulo Cultural de Setúbal que passa a ter uma intervenção cultural e política na cidade de Setúbal.
Edita o álbum Contos Velhos Rumos Novos e o single «Menina, dos Olhos Tristes» que contém a canção popular «Canta Camarada». Recebe o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco, distinção que repete em 1970 e 1971. Pela primeira vez num disco de José Afonso, aparecem outros instrumentos que não a viola ou a guitarra. Trata-se do último álbum com Rui Pato. Nasce o último filho, o quarto, Pedro.
Em 1970 é editado o álbum Traz Outro Amigo Também, gravado em Londres, nos estúdios da Pye, o primeiro sem Rui Pato, impedido pela PIDE de viajar. Carlos Correia (Bóris), antigo músico de rock, dos Álamos e do Conjunto Universitário Hi-Fi, substitui Pato. A 21 de Março, por unanimidade, a Casa de Imprensa atribui a José Afonso o Prémio de Honra pela «alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira portuguesa». Participa em Cuba num Festival Internacional de Música Popular.
 Pelo Natal de 1971, é lançado o álbum Cantigas do Maio, gravado perto de Paris, nos estúdios de Herouville, um dos mais caros e afamados da Europa. O álbum é geralmente considerado o melhor disco de José Afonso. A editora Nova Realidade publica o livro Cantar de Novo.
No ano de 1972 o álbum chama-se Eu Vou Ser Como a Toupeira, gravado em Madrid, nos Estúdios Cellada, com a participação de Benedicto, um cantor galego amigo de Zeca, e com o apoio dos Aguaviva, de Manolo Diaz. O livro, editado pela Paisagem, tem apenas o título de José Afonso.
 Em 1973 José Afonso continua a sua «peregrinação», cantando um pouco em todo o lado. Muitas sessões foram proibidas pela PIDE/DGS. Em Abril é preso e fica 20 dias em Caxias até finais de Maio. Na prisão política, escreve o poema «Era Um Redondo Vocábulo». Pelo Natal, publica o álbum Venham Mais Cinco, gravado em Paris, em que José Mário Branco volta a colaborar musicalmente. No tema-título, participa Janine de Waleyne, solista dos Swingle Singers, o melhor grupo vocal de jazz cantado da altura, na opinião de José Niza.
A 29 de Março de 1974, o Coliseu, em Lisboa, enche-se para ouvir José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e outros, que terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena». Militares do MFA estão entre a assistência e escolhem «Grândola» para senha da Revolução. Um mês depois dá-se o 25 de Abril. No dia do espectáculo, a censura avisara a Casa de Imprensa, organizadora do evento, de que eram proibidas as representações de «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito». Curiosamente, a «Grândola» era autorizada. É editado o álbum Coro dos Tribunais, gravado em Londres, novamente na Pye, com arranjos e direcção musical, pela primeira vez, de Fausto. São incluídas as canções brechtianas compostas em Moçambique no período entre 1964 e 1967, «Coro dos Tribunais» e «Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante)».
De 1974 a 1975 envolve-se directamente nos movimentos populares. O PREC (Processo Revolucionário Em Curso) é a sua paixão.
Conviveu de perto com o "Comité de Luta de Setúbal " uma organização de Poder Popular onde participavam comissões de trabalhadores moradores e de soldados e que colaboravam com cooperativas agrícolas e que teve uma intervenção importante na cidade de Setúbal.


Cantou no dia 11 de Março de 1975 no RALIS para os soldados. Estabelece uma colaboração estreita com o movimento revolucionário LUAR, através do seu amigo Camilo Mortágua, dirigente da organização. A LUAR edita o single «Viva o Poder Popular» com «Foi na Cidade do Sado» no lado B. Em Itália, as organizações revolucionárias Lotta Continua, Il Manifesto e Vanguardia Operaria editam o álbum República, gravado em Roma a 30 de Setembro e 1 de Outubro, nos estúdios das Santini Edizioni. As receitas do disco destinavam-se a apoiar a Comissão de Trabalhadores do jornal República ou, caso o jornal fosse extinto, como foi, o Secretariado Provisório das Cooperativas Agrícolas de Alcoentre. Desconhecido em Portugal, o álbum inclui «Para Não Dizer Que Não Falei de Flores» (Geraldo Vandré), «Se os Teus Olhos se Vendessem», «Foi no Sábado Passado», «Canta Camarada», «Eu Hei-de Ir Colher Macela», «O Pão Que Sobra à Riqueza», «Os Vampiros», «Senhora do Almortão», «Letra para Um Hino» e «Ladainha do Arcebispo». Francisco Fanhais colaborou na gravação do disco, juntamente com músicos italianos.
 Em 1976 apoia a candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, cérebro do 25 de Abril e ex-comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente), apoio que reedita em 1980. Fase cronista de José Afonso, que publica o álbum Com as Minhas Tamanquinhas. O disco tem a surpreendente participação de Quim Barreiros. É, na opinião de José Niza, «um disco de combate e de denúncia, um grito de alma, um murro na mesa, sincero e exaltado, talvez exagerado se ouvido e lido ao fim de 20 anos, isto é, hoje». É a «ressaca» do PREC. O álbum Enquanto Há Força, editado em 1978, de novo com Fausto, representa mais um exemplo da fase cronista do cantor, ligada às suas preocupações anti-colonistas e anti-imperialistas e à sua crítica mordaz à Igreja. Inclui as participações, entre outras, de Guilherme Inês, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho.
Em 1979 é editado o álbum Fura Fura, com a colaboração musical de Júlio Pereira e dos Trovante. O disco inclui oito temas de música para teatro, compostos para as peças Zé do Telhado, de A Barraca, e Guerra do Alecrim e Manjerona, da Comuna. Actua em Bruxelas no Festival da Contra-Eurovisão.
Em 1981, após dois anos de silêncio, regressa a Coimbra com o seu álbum Fados de Coimbra e Outras Canções. Trata-se da mais bela versão do fado de Coimbra, interpretada por Zeca Afonso em homenagem a seu pai e a Edmundo Bettencourt, a quem o disco é dedicado. Actua em Paris, no Théatre de la Ville.
Em 1982 começam a conhecer-se os primeiros sintomas da doença do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Trata-se, aparentemente, de um vírus instalado na espinal medula que, de uma forma progressiva, destrói o tecido muscular e, normalmente, conduz à morte por asfixia. Actua em Brouges no Festival de Printemps.
Em 29 de Janeiro de 1983 realiza-se o espectáculo no Coliseu com José Afonso já em dificuldades. Participam Octávio Sérgio, António Sérgio, Lopes de Almeida, Durval Moreirinhas, Rui Pato, Fausto, Júlio Pereira, Guilherme Inês, Rui Castro, Rui Júnior, Sérgio Mestre e Janita Salomé. É publicado o duplo álbum Ao Vivo no Coliseu.
No Natal desse ano, sai Como Se Fora Seu Filho, um testamento político. Colaboração de Júlio Pereira, Janita Salomé, Fausto e José Mário Branco. Alinhamento: «Papuça», «Utopia», «A Nau de António Faria», «Canção da Paciência», «O País Vai de Carrinho», «Canarinho», «Eu Dizia», «Canção do Medo», «Verdade e Mentira» e «Altos Altentes». Algumas das canções foram escritas para a peça Fernão Mentes? do grupo de teatro A Barraca. Publicado o livro Textos e Canções, com a chancela Assírio e Alvim. Contra a sua vontade, é publicado pelo Foto Sonoro um maxi-single, Zeca em Coimbra, com um espectáculo dado por Zeca no Jardim da Sereia, na Lusa Atenas, a 27 de Maio. A cidade de Coimbra atribui a José Afonso a Medalha de Ouro da cidade. «Obrigado Zeca, volta sempre, a casa é tua», disse-lhe o presidente da Câmara, Mendes Silva. «Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem», respondeu José Afonso. O Presidente da República, general Ramalho Eanes, atribui a José Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa-se a preencher o formulário. Em 1994, o Presidente da República Mário Soares tentou de novo condecorar, postumamente, José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas a mulher, Zélia, recusou, alegando que se José Afonso não desejou a distinção em vida, também não seria após a sua morte que seria condecorado.
Em 1983 José Afonso é reintegrado no ensino oficial, tendo sido destacado para dar aulas de História e de Português na Escola Preparatória de Azeitão. Tinha sido expulso em 1968. A doença, agrava-se.
Em 1985 é editado o último álbum, Galinhas do Mato. José Afonso já não consegue cantar todos os temas, sendo substituído por Luís Represas («Agora»), Helena Vieira («Tu Gitana», Janita Salomé («Moda do Entrudo», «Tarkovsky» e «Alegria da Criação»), José Mário Branco («Década de Salomé», em dueto com Zeca), Né Ladeiras («Benditos») e Catarina e Marta Salomé («Galinhas do Mato»). Arranjos musicais de Júlio Pereira e Fausto. Outras canções do álbum: «Escandinávia Bar-Fuzeta» e «À Proa».Em 1986 apoia a candidatura presidencial de Maria de Lourdes Pintassilgo, católica progressista.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982




AMINETU HAIDAR
À 20 anos na luta por um Sahara Livre


Luta da Frente Polisário

Aminetu Haidar prossegue greve de fome no aeroporto de Lazarote .
Aminetu Haidar, a activista saharaui dos Direitos Humanos que se encontra em greve da fome no aeroporto de Lanzarote reclamando o direito a regressar a El Aiun, intrepôs uma acção contra Marrocos e Espanha por a impedirem de regressar ao seu país — o Sahara Ocidental sob ocupação marroquina — e de se juntar à sua família e aos seus filhos.

Aminetu Haidar intrepôs uma acção judicial contra o Estado de Marrocos por expulsão ilegal; contra as autoridades espanholas no que considera um sequestro, já que a obrigaram a entrar num país — Espanha — contra a sua vontade e sem que tivesse papéis que o permitissem (o passaporte e todos os seus pertences foram-lhe retirados pela polícia marroquina quanto, na passada 6.ª feira regressava de avião a El Aiun em voo oriundo das Canárias); e contra a Guardia Civil por maus tratos infligidos no aeroporto de Lanzarote, quando os agentes a obrigaram pela violência a abandonar as instalações da aerogare.
O ministro de Negócios Estrangeiros de Espanha, Miguel Angel Moratinos, declarou que como a activista saharaui não havia cumprido "os requisitos que o Governo marroquino lhe pediu, o que fizemos então foi facilitar a sua chegada a Lanzarote, ou seja, não fizemos nada mais nada menos que o que corresponde fazer a um un país onde esta cidadã tenho autorização de residência legal".
Inés Miranda, advogada da activista a quem já apelidam da «Ghandi saharaui», afirmou no entanto que Aminetou Haidar possui uma autorização de residência por razões humanitárias unicamente para ter acesso a assistência médica e que a mesma caduca dentro de un mês. Segundo a jurista, "esta autorização humanitária não se pode virar contra a sua titular, obrigando-a a estar num território onde não quer estar".
Mohamed Salem Ould Salek, dirigente da F. Polisario e ministro de Negócios Estrangeiros da RASD, advirtiu o Governo espanhol de que as últimas declarações do ministro de Assuntos Exteriores e da Cooperação, Miguel Ángel Moratinos, sobre a expulsão de El Aaiún da activista saharaui Aminatu Haidar poderiam evidenciar uma grave "colaboração ou conivência" com Marrocos.
"O ministro Moratinos não pode respaldar a versão da Policía de ocupação marroquino sem incorrer em colaboração ou conivência", adiantou Mohamed Salem Uld Salek em comunicado oficial.


Informação à Imprensa - 16-11-2009
Associação de Amizade Portugal - Sahara Ocidental


Repressão Marroquina sobre o Sahara Ocidental




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Anaïs Nin

Anaïs Nin (1903-1977) nasceu em Paris. A mãe era filha do cônsul holandês em Havana e o pai um pianista e compositor cubano. A sua infância é passada entre músicos e artistas de renome, e em deambulações um pouco por toda a Europa. Em 1914 o pai abandona a família e a mãe decide regressar a Nova Iorque, onde crescera, com os três filhos. A bordo do barco que a afasta da Europa solarenga, cheia de história e de arte, Anaïs começa a escrever uma longa carta ao pai, esse homem que a fascina e a aterroriza. A carta nunca foi enviada, mas foi-se prolongando a cada dia, transformando-se no seu diário e dando origem a uma paixão pela escrita.

Em 1924, já casada, regressa a Paris. Convive com algumas das maiores personalidades literárias, artísticas e vanguardistas do seu tempo: Antonin Artaud, Otto Rank, André Maurois, Lawrence Durrel, Constantin Brancusi e, claro, Henry e June Miller.

Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, Anaïs vê-se forçada a abandonar Paris e regressa a Nova Iorque. Vive em Greenwich Village e, embora o ambiente intelectual seja propício à escrita, os seus romances são recusados pelas editoras. Aceita então escrever histórias eróticas para um coleccionador anónimo, que serão compiladas e publicadas postumamente: Delta de Vénus e Passarinhos. Após publicar alguns dos seus romances em edição de autor, a sua obra começa a ser fortemente elogiada pela crítica e, a partir da década de 50, é editada com grande sucesso na Europa.
Anaïs Nin vivia em Paris, casada com o homem ideal, Hugh Guiler, e procurava encontrar-se e impor-se literariamente. Henry Miller, mais velho, a viver sempre muito próximo da miséria, cruzava Paris e, por intermédio de conhecidos comuns, entrou no mundo encantadoramente gracioso dos Guilers. Apesar das diferentes personalidades, Nin não podia ter ficado mais feliz.

Esta relação artística e apaixonada foi palco de uma das correspondências mais ricas e íntimas da história literária. As cartas trocadas entre os dois escritores, e que tantas vezes se confundiam com os diários secretos escritos por Anaïs Nin, discutiam literatura, falavam de solidão, choravam angústias, exprimiam paixão e contaram a admiração artística e ligação espiritual que sentiam um pelo outro.
Miller foi a primeira pessoa a reconhecer a qualidade única dos diários de Nin e ela chamava-o de "o maior escritor à face da Terra", providenciava-lhe apoio financeiro e procurou publicação para o seu Trópico de Câncer.
Eram ambos casados quando se conheceram em Paris, em Dezembro de 1931. Miller divorciou-se em 1934, mas Nin não quis abandonar o seu marido, de quem acabou por se separar só no fim dos anos 1940.


LIVROS de ANAIS NIN


HENRY MILLER


casa onde viveu ANNAIS NIN

EROTISMO


O ÍNICIO DO MUNDO



Estávamos em 1866 e Courbet era já um pintor conhecido em França pela sua destreza técnica mas sobretudo pela sua atitude crítica e corrosiva em relação à sociedade e moral burguesas, que não perdia ocasião de afrontar. Courbet era um socialista convicto, arrogante e autoconfiante, é preciso dizer. No entanto talvez isso não baste para justificar a obra que realizou nesse ano e que havia de o celebrizar mais do que todas as outras. Ao representar frontalmente as coxas e o sexo de uma mulher, A Origem do Mundo abalou profundamente o meio artístico da época. E não só!

CONTOS ERÓTICOS





MAIO 68
IMAGINAÇÃO AO PODER
É PROIBIDO PROIBIR

Buenaventura Durruti Domínguez
               1896-1936
Anarquista, sindicalista, revolucionário, figura de destaque do movimento libertário espanhol tanto antes como durante a Guerra civil espanhola.
Operário, desde jovem destacou-se na luta social como militante anarco-sindicalista da Confederación Nacional del Trabajo CNT.
Demitido durante as greves de 1917, emigrou para França onde permaneceu até 1919. De volta a Espanha, na região País Basco, junto com outros ativistas formou o grupo Los Justiceros com a finalidade de combater o pistoleirismo patronal.
Em 1922 em Barcelona, também como resposta à repressão e ao pistoleirismo patronal, forma em conjunto com Francisco Ascaso, Ricardo Sanz, Joan García Oliver e outros companheiros, aquele que viria a ser um dos mais famosos grupos de ação direta do anarquismo espanhol: Los Solidarios
Tomou parte no levante de 19 de julho de 1936 que deu início à Guerra Civil Espanhola, ocasião em que a CNT-FAI e outras organizações libertárias saíram as ruas para desmantelar os setores golpistas. Tendo Durruti combatido nas barricadas de Barcelona e, à frente de um grupo de trabalhadores, assaltado o quartel Atarazanas. Assumiu um papel de destaque nessa revolução, tanto como combatente como enquanto orador sem igual.
Foi morto com um tiro no dia 20 de novembro de 1936, quando se dirigia para a frente de batalha em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas.






FRANCISCO FERRER


Biografia

Ferrer nasceu em Alella (Barcelona) em 10 de janeiro de 1859. Ele pertencia a uma família de pequenos proprietários, católica e monarquista. Por razões familiares, ele se mudou para Barcelona e passou a trabalhar com um comerciante de farinha Provençals Sant Martí. No entanto, quinze anos de idade, quando o comerciante matriculados em cursos noturnos, a partir dos ideais republicanos. Durante a Primeira República, Francisco Ferrer entusiasticamente participaram em experiências de educação popular. Durante os anos seguintes a auto jovem autodidata estudado minuciosamente as idéias de Pi y Maragall e conheceu as doutrinas dos internacionalistas. A avant-garde do seu ensino irá causar inimizade do poder do Estado e os sectores mais retrógrados da Igreja. Seu sonho de trazer o projeto para a frente será punido com a morte. Acusado de ser o líder da revolta popular que estava a ter lugar em Barcelona, conhecida como "Semana trágica" é filmado em 1909 em Montjuic, após uma corte marcial. Na Espanha e outros países, são levantados os protestos contra a execução, pedindo a revisão da sentença e causar a queda de Antonio Maura e seu governo. Um ano depois, o Congresso dos Deputados reconheceu a sua inocência. Através de imagens de arquivo e tiro, reconstrói a vida de Francisco Ferrer Guardia, ideológica e os seus caprichos e vicissitudes que teve de enfrentar na realização do seu trabalho."

A morte de Ferrer e a imprensa setubalense.
Por : CARLOS MOURO     (Artigo Inédito )

O carácter local, bem como a periodicidade semanal dos periódicos compulsados – Independente, O Elmano e Germinal – impedia-os de seguirem o palpitar diário da vida internacional. Para tanto circulavam inúmeros títulos nacionais. Quotidianamente, estes traziam a todos as mais desvairadas imagens do horror que se vivia nas ruas de Barcelona. Talvez por isto a generalidade da imprensa sadina (conhecida) não se mostrou sensível aos sucessos da capital catalã, em Julho de 1909 (espelhando igual atitude dos setubalenses?). Porém, o fuzilamento de Francisco Ferrer calou fundo no espírito dos periodistas locais e, por certo, no ânimo dos respectivos leitores. A reacção dos periódicos sadinos variou, compreensivelmente, em função do posicionamento político dos respectivos corpos redactoriais.
Assim, o Independente – que, à época da “semana sangrenta”, era editado por Luís Augusto e tendo como redactor Miguel Ângelo Silva Soares, genro do industrial e proprietário António José Baptista (1854-1912), poderoso influente local e autarca, último abencerragem, na cidade, do poder real e que, após 16 de Junho de 1910, se subintitularia “semanário monárquico” – em nome de valores piedosos e profundamente católicos, lá foi lamentando a morte de Ferrer, do mesmo modo que condenava as outras mortes ocorridas nas ruas da Catalunha. Desaprovava a política antimilitarista (“utopismo demasiado louco (…), crime de lesa nacionalidade”); lastimava a perturbação da ordem, a quebra da honra nacional de um país, a que conduzira um “sentimentalismo piegas e balofo”, por “arremetidas revolucionárias”. Os “nefastos propagandistas” (os anarquistas e os republicanos eram, para o citado periódico, a mesma coisa) haviam desorientado os “obreiros do progresso” que, em Barcelona, “serviram de alvo às mausers, numa hecatombe horripilante”. Essa “propaganda dissolvente” fizera acreditar que na destruição de tudo quanto representava a “ordem social” se encontraria “o bem-estar, a felicidade e a riqueza”. Reprovando a violência, ciente de que um crime não pode a sociedade puni-lo com crime igual, o Independente lá foi defendendo a repressão governativa pela força e estranhando a defesa exclusiva que se fazia de Ferrer. Não percebendo como era possível que “os nossos republicanos e anarquistas” calassem esse facto, interrogava-se: “porque se faz todo este barulho em volta da individualidade do fundador da Escola Moderna, e se esquecem todas as demais vítimas dos acontecimentos da Catalunha?”.
Diversa era a posição d’O Elmano – “semanário político, literário e noticioso” que alinhava (desde 1895, pelo menos) com os republicanos, tendo a dirigi-lo Leonardo Duarte Júnior (1859-1915), um destacado pioneiro local do novo ideário. Para O Elmano – seguindo, aliás, o que se escrevera nas páginas do Diário Popular – o crime que se perpetrara nas masmorras do castelo de Montjuich, nesse 13 de Outubro, pouca importância tinha, se comparado com o enorme atentado social e civilizador que se praticara. Revelando os traços anticlericais tão queridos aos republicanos, escreveu-se: “A Espanha católica, que ainda há dois dias, em Melilla, dançava e cantava em honra da Virgen del Pilar, fuzilou Ferrer, uma intelectualidade e um carácter”. Segundo o ponto de vista d’O Elmano, aquele pedagogo não devia ter sido fuzilado porque “era uma inteligência e na espécie humana as inteligências poupam-se como os diamantes e as pérolas” e “porque o seu processo foi iníquo e monstruoso e o mundo civilizado intercedia por ele”. A 30 de Outubro, em artigo firmado por Fazenda Júnior – “Melilla e Montjuich” – escreveu-se que o fuzilamento de Ferrer “desonrou para sempre a Espanha negra de Torquemada, de la Cierva e de Maura”, associando, deste modo, o nome do inquisidor-geral da Península Ibérica – Tomás de Torquemada (1420-1498), ligado ao horror do Santo Ofício e ao mais cruel obscurantismo religioso – aos governantes da Espanha de então, nomeadamente a António Maura y Montaner (1853-1925). O Elmano atribuía aos “reaccionários mitrados” a verdadeira responsabilidade pelo assassinato. Maura e os seus não passavam, na óptica de Leonardo Duarte Júnior, de “simples instrumentos dos ódios ultramontanos”. A conclusão surgia, crua: “aquele país, dominado ignominiosamente pela reacção clerical e jesuítica, não mais se levantará”.
O Germinal – “defensor dos oprimidos”, conotado com o ideário anarquista, publicado aos sábados sob a direcção do professor do ensino livre e, depois, solicitador Martins dos Santos (?-1951), – foi o periódico que mais violentamente protestou pela prisão e subsequente execução do educador espanhol. Uma vez “consumado o atentado liberticida contra Ferrer”, a 5 de Setembro, o Germinal lembrou que “a Espanha reaccionária de há muito acalentava a doce esperança de inutilizar o fervoroso apóstolo da educação livre”. Aquando da revolta de Barcelona, aquele era quem “mais fundo cortava nos interesses e na estabilidade da burguesia dominante”. O Governo espanhol – “representante e fiel intérprete dos baixos sentimentos dessa burguesia odiada” – não hesitou. Apesar de todos os protestos Ferrer seria fuzilado, a 13 de Outubro de 1909. Três dias depois o periódico de Martins dos Santos, empregando a violência verbal que sempre o caracterizara e caracterizaria, titulou, a toda a primeira página: “Um crime monstruoso”. A introduzir a funesta notícia, a cinco colunas, lia-se: “A Espanha burguesa, militar e clerical acaba de cometer contra Ferrer o mais monstruoso crime do século XX”.

Setúbal e os Setubalenses condenaram o fuzilamento de Ferrer.

Em Setúbal, a 24 de Outubro de 1909, no Casino Setubalense, teve lugar uma sessão de homenagem a Ferrer, convocada por diversas associações de classe (soldadores, caixeiros, construtores civis, corticeiros, trabalhadores das fábricas, marítimos, sapateiros e construtores navais) pela Liga Cosercial, pelos centros Republicano e de Propaganda Liberal, pela Escola Liberal e, ainda, pelo periódico Germinal e pelos representantes de O Século, Luta, Mundo e Diário de Notícias.
Segundo o Germinal “a cidade de Setúbal, cujos sentimentos liberais são indiscutíveis e muito antigos e que sentiu a morte violenta do fervoroso propagandista do ensino racional como se sente a morte dum bom amigo ou bom irmão, longe de obedecer a qualquer intuito político-partidário mas só pela consciência dos seus deveres de solidariedade humana, principia a manifestar-se amanhã contra o maior crime político, primeiro e último dessa natureza e duma tal crueldade que se pratica neste século”. Apelava a quem fosse “deveras liberal nesta cidade” a quem detestasse “o bando negro dos sotainas carnívoros, causadores do estagnamento moral e material dos povos, com todas as grandes misérias e infortúnios inerentes” a quem fosse “amante da justiça” e tivesse “compreendido que a união é a base e a mais sólida garantia da vitória da ideia sobre o preconceito, da luz da verdade sobre a treva dos espíritos”. Todos estariam, supunha o periódico, “de corpo e ânimo” com os iniciadores da manifestação. Solicitava, ainda, a “todos os habitantes liberais de Setúbal, seus arredores e vilas próximas a esperarem na estação os oradores de Lisboa que devem usar da palavra na referida sessão, para acompanhá-los ao Casino Setubalense”. Não se pretendia “ovacionar indivíduos quaisquer” mas sim “render preito à justiça e desagravar a memória de Ferrer e a consciência universal do insulto que lhes foi infligido pelo Governo espanhol, facinoroso e cobarde”. Pretendia-se uma manifestação silenciosa que não provocasse “as fúrias da autoridade local” o que poderia “prejudicar dalgum modo o bom êxito do empreendimento”.
O Casino encheu. Entre os oradores contavam-se os representantes de alguma imprensa de Lisboa e Martins dos Santos, que representava as agremiações operárias e centros. Este foi indicado para presidir à sessão, tendo declinado em Ezequiel Soveral Rodrigues que era “quem mais de direito, por sua inteligência e serviços prestados ao movimento liberal de Setúbal”. Para secretariar a sessão foram aclamados José da Rocha – delegado da Liga Comercial – e Calçada – delegado do Centro Republicano. O primeiro orador foi Martins dos Santos que, após reiterar o repúdio pelo atentado contra Ferrer e após criticar o Governo espanhol, lembrou que “dentre as terras portuguesas aquela cuja história lhe impunha o dever de acompanhar o grandioso movimento de protesto contra as carnificinas de Espanha, destaca-se Setúbal, justamente considerada pela altiva independência do seu povo, pela admirável coesão do seu operariado – a Barcelona portuguesa”. Seguiu-se Campos Lima – que o Germinal intitulava como “nosso amigo e inteligente camarada” – que protestou contra o fuzilamento de Ferrer e contra o facto de em Montjuich jazerem ainda alguns prisioneiros. Falou da Escola Moderna. Enalteceu-a. A sala vibrou intensamente. Em nome do Centro Republicano de Setúbal falou, depois, Joaquim Brandão (1876-1927) que assim se unia a outros republicanos de todo o país que jamais negavam “o concurso do seu protesto veemente e da sua solidariedade sincera, quando se trata de condenar seja qual for o atentado liberticida, ou de promover seja que obra for de reparação social”.
Uma vez realizado o protesto, o Germinal considerou-o uma “manifestação imponente”. No cais ferroviário, a esperar os oradores, chegaram “numerosos grupos” de tal modo que quando o comboio entrou na estação “já pela gare, salas de espera e no largo fronteiro à estação se distribuíam algumas centenas de indivíduos ali levados apenas pelo convite do Germinal por se não ter podido imprimir um manifesto”. O cortejo que se formou foi engrossando. Por alturas do Quebedo já “o aspecto da multidão era soberbo e verdadeiramente consolador”. Alguns elementos das forças policiais intervieram chegando a efectuar algumas “prisões que não puderam manter, tão fortes foram os protestos que surgiram de todos os lados”. O chefe da polícia – Costa – com a conivência do Administrador do Concelho – “congestionado, apopléctico, acabrunhado por aquela cobardia que todos lhe conhecemos” – mandaram formar a cavalaria em frente do Casino e nas traseiras colocar “toda a polícia disponível”.
O Elmano não deu grande destaque às manifestações de 24 de Outubro, pese embora haver condenado o crime praticado pela Espanha católica, nas masmorras de Montjuch, estribando-se num anticlericalismo tão caro aos republicanos. Apenas na edição de 6 de Novembro, numa pequena nota – com o título “Francisco Ferrer” – inserta no canto inferior direito da primeira página, se pode ler: “Por lapso não nos referimos no último número à conferência organizada pelas associações de classe desta cidade e dedicada à memória de Francisco Ferrer.
“Foi uma manifestação imponentíssima como poucas se têm feito em Setúbal. O sr. dr. Campos Lima, que veio de Lisboa, foi acompanhado desde a estação do caminho-de-ferro até ao Casino Setubalense por muitas centenas de pessoas que davam ‘vivas’ à Liberdade e aplaudiam aquele talentoso advogado.
“No Casino falaram os srs. Martins dos Santos, Joaquim Brandão e dr. Campos Lima, produzindo este um brilhante discurso sobre Ferrer e a sua obra. O ilustre orador foi muito vitoriado e aplaudido pela numerosa assistência que, pela numerosa assistência que, por completo, enchia a vasta sala do Casino Setubalense”.
Por seu turno, o Independente viria a referir-se de forma desdenhosa aos protestos. Na edição de 21 de Outubro lê-se: “O directório republicano apenas há dois ou três dias se manifestou no caso Ferrer, aprovando uma pedantesca moção redigida pelo sr. Teófilo Braga.
“Já era tempo, sabidas as contas, mesmo porque os anarquistas da trama começavam a andar resmungões e desconfiados com os parceiros”.
Na edição seguinte, após haver transcrito, em lugar de honra, um artigo saído no Liberal – intitulado “O protesto do directório do Partido Republicano” – procura amesquinhar a reunião de protesto de 24 de Outubro, promovida, nas suas palavras, pelos “republicanos anarquistas aqui de Setúbal”. De Lisboa tinham vindo, afinal, “poucos oradores e dos mais mal cotados”. Depois, referindo-se ao pioneiro do republicanismo local Joaquim Brandão, escreveu: “O melhor discurso, ainda assim, no género republicano, pronunciou-o aquele famoso Dr. Chouriço, já conhecido em Sesimbra, donde é natural. Ninguém percebeu, mas todos disseram ao ouvi-lo: Ah, menino, que bem que falas!”.
Logo depois, criticando a falta de coerência de alguns dos seus adversários políticos escreveu-se no Independente: “Na mesa estava um secretário que não há muito mandava um filho à comunhão, naturalmente por ódio ao clericalismo. Igualmente, vários patriotas, acratas duma cana só, que tínhamos visto na espera dos oradores, estavam depois, devotadamente recolhidos, vendo passar a procissão que nesse dia teve lugar”.
Carlos Mouro




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Educação e Cultura Libertária
por Edgar Rodrigues
 
Os anarquistas tinham em seus projetos de se educar libertariamente. Para tanto fundaram escolas dentro dos métodos da Escola Moderna de Francisco Ferrer (Espanha), de La Ruche de Sebastião Faure (França), formaram grupos de teatro social, populares, proferiam conferências, publicaram jornais, revistas e opúsculos; deram a seus filhos nomes de anarquistas mundialmente conhecidos, não os batizavam pela igreja, e o sepultamento de seus familiares não tinha a presença do padre, era civil.
Os anarquistas pretendiam testar seus métodos reeducando e desbloqueando as mentes embrutecidas por condicionamentos milenares, aplicados ao longo de muitas gerações humanas,.
Na Espanha, Francisco Ferrer y Guardia por fundar a Escola Moderna em 1901, esteve preso, acusado de autor intelectual do movimento grevista com o qual nada tinha e acabou condenado á morte e fuzilado no Castelo de Montjuich, em Barcelona.
Contrariando os inquisidores espanhóis, as ideias de Ferrer voavam como uma revoada de pássaros invadindo nações, atingindo sorrateiramente as camadas mais evoluídas, intelectuais e operários, tocando-lhes a sensibilidade, penetrando em seus cérebros.
O proletariado português recebeu os ensinamentos de Ferrer com entusiasmo. Pela primeira vez era-lhe apresentado um autêntico hino de Amor e de Paz, em forma de ensino, partindo dos bancos escolares, com explicações como estas: "Não se educa integralmente o homem disciplinando a sua inteligência, esquecendo seus sentimentos e desprezando sua vontade. O homem na unidade do seu funcionamento cerebral, é complexo, tem várias facetas fundamentais, é uma energia que vê, afeto que repele ou recebe, concebendo voluntáriamente e tornando em actos as leis do organismo do homem, que abre um abismo onde precisa existir, uma saudável e bela continuidade. E sem dúvida, elemento favorável ao divórcio entre o pensar e o sentir.
Muitos deles serão, indubitavelmente, potentes em suas faculdades mentais, possuindo riqueza de ideias, até compreendem a orientação real, dentro de um conceito formoso, que prepara a ciência da vida, do indivíduo e dos povos. Mas, com todas as suas desatenções egoístas, e as próprias conveniências dos seus fins... tudo isto mesclado com uma levedura de sentimentos tradicionais, formam uma camada impermeável em volta de seus corações, para que não se infiltrem neles ideias progressistas, e não se convertam num jogo de sentimentos propulsores, imediato determinante da conduta do homem".
Estas ideias fizeram desabar sobre a cabeça de Ferrer todas as maldições da Igreja, todo o rancor da burguesia, todo o ódio de Maura!
Em 1908, em vários pontos de Portugal, funcionavam escolas baseadas nos métodos de Ferrer.
As ideias de Ferrer vieram alertar professores, contagiar estudantes e intelectuais, suscitar discussões e debates. nem todos aceitavam integralmente suas ideias pedagógicas, mas todos foram sacudidos por essa nova aurora! Uns contestavam, outros defendiam os métodos da Escola Moderna. As deformações seculares e os ensinamentos "oficiais" opunham-se á sua total aceitação, mas atingidos e contagiados pelas ideias do professor anarquista, muitos começaram a pedir a renovação do ensino da escola.
Jovens intelectuais, alinharam-se na defesa do ensino renovado e vieram colaborar na imprensa anarquista, Deolinda Lopes Vieira, escrevendo sobre "educação integral". E o Dr. Egas Muniz afirmando: "A Escola Moderna, há-de ser o tipo para que hão-de tender as escolas do futuro".
São ainda da imprensa da primeira década do nosso século, as linhas seguintes: "Inspirada nos princípios da Liga Internacional de Educação Racional de Infância, a que presidiu Ferrer, acaba de formar-se em Lisboa uma associação que se propõe criar e manter uma ou mais escolas em Lisboa e demais pontos do País, com base nos seguintes itens:

1º - Organizar e pôr a funcionar qualquer escola, aula ou simples disciplina, separadamente;
2º - A formar planos de estudo pelo método racional, já para escolas integrais, já para determinadas aulas ou disciplinas;
3º - A indicar ou subministrar a qualquer escola ou indivíduo, professores ensinando pelo referido método, que expliquem em algumas lições durante as horas ordinárias do ensino da respectiva disciplina.
4º - A fornecer cadernos, notas, quadros exemplificativos e orientadores do método racional para os professores seguirem e puderem executar mais facilmente esse método;
5º - A dar quaisquer informações que lhe sejam pedidas acerca do método a seguir numa determinada disciplina;
6º - E, finalmente, tendo em vista que a educação profissional é o melhor factor de desenvolvimento económico dos povos e a fornecer ás associações de classe, sindicatos ou núcleos operários, planos de cursos profissionais de qualquer indústria".

"Secretário Geral, Raul Pires; secretário técnico, José Simões Coelho".
As ideias do pioneiro, do idealizador e fundador da Escola Moderna, afetavam a "segurança do Estado", abalavam as velhas estruturas, punham em "perigo "as mistificações da Igreja e derrubavam a fé! E, baseadas nesses interesses mesquinhos, o governo espanhol chamou seus escribas e ordenou-lhes que encontrassem "meios legais" para matar Francisco Ferrer!
Em Portugal, a exemplo de outros países, a imprensa libertária promoveu a divulgação das ideias de Ferrer e as manifestações de protesto contra os carrascos espanhóis, contra Dom Maura e o governo a quem servia de olhos fechados e ouvidos entupidos!
A VIDA, semanário anarquista do Porto, conclama os portugueses a manifestar-se e sua voz teveeco, foi ouvida, atendida, e de norte a sul do país, o proletariado repudiou a medida vingativa, o gesto mesquinho e reacionário.
Em Setúbal, os anarquistas do Núcleo Propaganda Livre, dirigido pelos militantes Gerônimo Favas, Alexandre das Neves e Luiz Bernardino da Associação dos Marítimos, promovem manifestações públicas, tendo como oradores: Bartolomeu Constantino (pelo Núcleo), Martins dos Santos (pelo Germinal), Fernão Botto Machado, Xavier Correia, Francisco de Souza e o republicano Paulino de Oliveira. Os oradores colocaram em votação publica, moção de repúdio ao governo e ao clero espanhol.
No Porto, a campanha em favor de Ferrer foi iniciada pelos anarquistas, aderindo alguns intelectuais e estudantes.
No comício de 7 de Abril de 1907 falaram os seguintes oradores: Serafim Cardoso Lucena, Jaime Cortesão, Francisco Santos, Campos Lima, Pádua Correia, Amadeu da Silva, Leonardo Coimbra, Mem Vidal, Vasco José Moreira, Diamantino Leite, Deolindo Castro, Maneca Ferreira.
Ao final foi aprovada esta breve moção:
Considerando que o caso Ferrer e Nekeus sintetiza toda a Espanha autoritária e jesuítica;
Considerando que o ato de Nekeus não é senão a revelação dum espírito superior que se coloca fora da lei para se não colocar fora da Humanidade;
Considerando que Ferrer praticou apenas o nefando crime de propagar uma instrução racional e livre, e que todo o processo que lhe movem é só uma instigação dos clericais para inutilizar a Escola Moderna;
Os cidadãos portugueses, reunidos em comício público, protestam contra a inquisição espanhola, saudando nesses dois homens a Espanha consciente e livre".
Para os semeadores do anarquismo, o atraso do trabalhador representava um grande mal. Mal, que principiava na pobreza económica e terminava na pobreza de raciocínio.
Tinha raízes muito profundas, seculares, com efeitos negativos na formação e desenvolvimento das personalidades operárias, no povo humilde em geral, sobre quem recaiam todas as desgraças, inclusivé a de não saber ler.
Atrasados intencionalmente por condicionamentos físicos e psíquicos, tinha dificuldades em perceber as mentiras patronais e eclesiásticas, governamentais e divinas!
Boa parte aceitava com naturalidade a sua própria miséria e sua ignorância.
Partindo dessa calamidade pública, desse atraso mental transformado em praga de efeitos anestésicos, o elemento libertário principiou a fundar escolas livres com vistas a alfabetizar e a despertar o raciocínio do aluno, oferecendo-lhe um Mundo Novo que não podia conhecer, confinado como estava dentro dos estreitos limites das convivências da burguesia reinante.
Neste sentido, o jovem anarquista, Campos Lima, que acabava de formar-se em Direito, após uma visita á Comuna Escolar La Ruche, em Rambonillet, Paris (França), dirigida pelo anarquista Sebastião Faure, funda com alguns professores, um grupo para pôr em prática, na terra lusa, os métodos libertários de ensino. Assim o grupo passou a usar o nome de Escola Livre de Coimbra, e esboçou o plano de educação e solidariedade que foi publicado nos jornais anarquistas da época, baseado nestas premissas:
A Escola Livre, que se destina á educação de crianças pobres, procurará evitar quanto possível os efeitos por que o ensino gratuito é ministrado em Portugal pelo estado. As crianças admitidas pela Escola Livre ficarão inteiramente a cargo do grupo que se propõe criá-las, recebendo gratuitamente não só o ensino como alimentação, vestuário e alojamento, procurando-se sempre por cuidados que as famílias pobres não poderiam ter, evitar o desequilíbrio entre o seu desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento físico. Todas as crianças além duma instrução geral, aprenderão pelo menos um dos ofícios que mais estejam de harmonia com as suas aptidões e robustez.". E, concluí: "A Escola Livre, esforçar-se-á por que cada criança fique com um conhecimento o mais completo de si próprio e da vida em geral, habilitando-a a procurar os meios indispensáveis á conservação da existência: despertará em todos os sentimentos de independência e liberdade; desenvolverá entre elas o princípio do auxílio mútuo, base de toda a solidariedade, e não tendo a pretensão de formar sábios, dar-nos por satisfeita e cumpridora da missão, se conseguir formar homens de carácter".
A iniciativa do anarquista Campos Lima é seguida pela jovem professora Ilda Adelina Jorge, que organizara um grupo de professoras e escritoras para fundar a Escola Maternal, cujo plano era "receber as crianças de ambos os sexos desde os três até aos sete anos. As mães ao saírem de manda para as suas ocupações, aí colocarão os seus filhos, onde, a par de uma prática de educação, segundo o sistema Froebel, encontrarão alimento, vestuário e em cada professora, em cada pessoa que a dirija, uma mãe carinhosa. A noite voltarão para suas casas. Ao completarem seis anos, passam as crianças para as aulas anexas ás Escolas Maternais, aprendendo a ler e a escrever pelo método de João de Deus, o imortal amigo dos pequeninos. tendo sete anos, sairão da escola, ficando esta, sempre que possa a protegê-las".
A VIDA lembra que "imensa legião" vê na educação a mais possante alavanca do progresso e regista o Núcleo de Educação Anarquista que acabava de formar-se publicando a "Questão Social" de Campos Lima.
A VIDA - volta e meia trazia á discussão a educação e o ensino visto e analisado pela ótica libertaria.
Em Junho de 1906, artigo da responsabilidade da direção do jornal evoca H. Spencer para dizer com ele: "Seria preciso dizer á criança o menos possível, e fazê-la achar o mais possível".
A escola libertária atravessou dificuldades financeiras, inconstância de apoio, mas assim mesmo deixou marcas inapagáveis neste final da Monarquia.
Ainda no final de 1909, nascia o Grémio de Educação Racional com a participação de Adolfo Lima, Emílio Costa, Afonso Manaças, César porto, António Lima, Simões Coelho, António Evaristo, Araújo Pereira, Delfim Guimarães, Jaime Sabrosa, Jorge Fernandes, Raul Pires, Severino de Carvalho, A. Francisco dos Santos, Bernardo Sá Viana, Bento Faria, Carlos Antunes, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Todi Gonçalves, Garibaldi Freire, Lucinda Tavares, cujos estatutos foram publicados na época.
O Grémio tinha como meta maior ajudar na ramificação de Escolas Modernas em Lisboa e arredores, o que levou adiante, apesar das alterações que a República introduziu no ensino a partir de 1910.
A MANHÃ depois de se dirigir Ao Leitor saúda a todos os professores e propagandistas, a todas as associações e publicações periódicas que se interessam, advogam e patrocinam a causa da educação e instrução populares, afirmando a adesão a todas as iniciativas que tenham por fim a completa emancipação intelectual do povo".
E mais, entra no terreno da ortografia que os acadêmicos insistiam em atualizar, simplificar e uniformizar a fim de eliminar o analfabetismo. Neno Vasco começou essa campanha em 1904-1905 em S. Paulo, Brasil, nas páginas de "O AMIGO DO POVO", continuou em "A TERRA LIVRE", 1907-1908, adotando inclusive uma simplificação ortográfica que "A MANHÃ" defenderia em 1909.
Engajada nesta campanha de educação integral, Deolinda Lopes Vieira, escreveu em A MANHÃ: "As questões pedagógicas, pois, merecem e precisam de estudo, de desvelo e do dedicado amor de todos os homens e de todas as mulheres.
Neste imenso oceano de maldade e hipocrisia, de violências e injustiças, de devassidão e de crimes em que a humanidade, a pouco e pouco, se vai submergindo e esforçadamente se debate, a educação da infância será, sem dúvida, a sua única tábua de salvação.
Para que assim aconteça, torna-se indispensável e urgente uma profunda remodelação no ensino: uma revolução na maneira de ensinar presentemente.
A fim de que a educação seja útil e benéfica, é preciso que ela vise conjuntamente o cérebro, o coração e a saúde e vigor físico da criança, isto é, que ela tenda a desenvolver normalmente as suas faculdades físicas, intelectuais e morais".
E concluia: "Eduquemos as novas gerações integral, racional e cientificamente, e uma humanidade nova composta de organismos robustos, de cérebros ilustrados, de corações afetuosos, de caracteres dignos, sucederá a esta humanidade de raquíticos, de egoístas, de seres sem dignidade e sem energia".
Num trabalho paralelo ao das Escolas Livres, os libertários adotavam o Esperanto como sua língua universal, agilizavam o livre pensamento, a formação de ateneus, grupos naturalistas e de teatro social. Por este meio faziam propaganda de suas ideias ao vivo para as famílias proletárias e outros, bem como instruíam, treinavam na arte do diálogo social e ainda conseguiam recursos financeiros para prestar solidariedade humana e publicar jornais, revistas e brochuras anarquistas.
O teatro social começou com os socialistas que não tardaram a deixá-lo de lado na medida em que não rendia dividendos eleitorais.
Ao contrário, os acratas davam-lhe amplo apoio: formaram grupos, escreviam peças e/ou traduziam para encenar e levar aos palcos das associações operárias e aos salões tradicionais.
No emaranhado de escolas dramáticas que se formavam e desapareciam depois da representação de algumas peças, até ao final da Monarquia duas se destacaram: a Sociedade de Teatro Livre e a Escola-Teatro Araújo Pereira. Estas duas agrupações chegaram á "profissionalização" e o último deu até aulas de arte de representar.
Para os libertários, todos os meios honestos eram válidos para fazer de cada indivíduo, um cidadão capaz de usar os braços e o cérebro, autogovernar-se. Proferiam centenas e centenas de conferências e palestras, publicaram opúsculos, jornais, revistas, e "mobilizaram" todos os seus militantes na sementeira anarquista.
Para uma melhor compreensão da coerência dessa tarefa, vamos recuar no tempo e alinhar alguns factos.
A REVOLTA divulgou textos valiosos e A VIDA publicou em folhetim: In Limine; Nem Deus nem Pátria, do brasileiro Benjamim Mota; Anarquia e Comunismo, de C. Malato; Reflexões acerca do Individualismo de A VIDA; Humanitários, de A VIDA; Propaganda e Crítica, de A VIDA; Antes do Momento, de C. Malato; Na Sociedade Anarquista, de A. Vida; No Café, de E. Malatesta; Autoridade e Anarquia, de Eduardo Maio; Os Crimes de Deus, de S. Faure; e O Salariato, de Pedro Kropotkine.
Recebeu ainda Enciclopédia Teatral, Amor e Ouro (teatro social), de Agostinho Guizardi; Os Esmagados (drama social), Rothem; A Humanidade, os jornais ANTORCHA (Argentina), DESPERTAR, A OBRA, O CONSTRUTOR CIVIL, a revista de TRABAJO, e os Boletins da Escola Moderna.
Esta imprensa revolucionária produziu a figura do autodidata, militante consciente e culto que tinha em sua moradia (quando a polícia não os levava, nas constantes buscas) obras dos grandes escritores liberais, livres pensadores, filósofos e anarquistas como: A Conquista do Pão, de P. Kropotkine; Um Século de Espectativa, P. Kropotkine; Evolução, Revolução e Ideal Anarquista, Elisée Reclus; A Sociedade Futura, Jean Grave; A Psicologia do Militar Profissional, Y. Prat; Porque Somos Anarquistas, S. F. Merline; Minha Defesa, Etievant; Entre Camponeses, E. Malatesta; Escravidão Antiga e Moderna, E. Areña; O Trabalho, E. Zola; Germinal, E. Zola; Judeus Cristãos e Maometanos, Felizardo Lima; A Religião ao Alcance de Todos, Ibarreta; Da Responsabilidade Campos Lima; Anarquismo e Comunismo, C. Cafiero; Os Crimes de Deus, S. Faure; Evangelho de um Seminarista, Tomás da Fonseca; O Cristianismo e a Razão, Py y Margal; Peste Religiosa, J. Most; Anarquia, E. Malatesta; Pátria e Internacionalismo, A. Hamon; Determinismo e Responsabilidade, A. Hamon; Educação e Autoridade Paternal, Gerard; Na Sociedade Anarquista, Federico Urales; Humanidade del Porvenir, Henrique Liuria; Boletins da Escola Moderna; O Auxílio Mútuo, P. Kropotkine; Em Volta de Uma Vida, P. Kropotkine; A Propriedade do Socialismo, C. de L.; Um Século de Expectativa, P. Kropotkine; Anarquia e a Igreja, E. Reclus; A Velhice do Padre Eterno, Guerra Junqueiro; Os Sermões da Montanha e Fátima, Tomás da Fonseca e obras de Oliveira Martins, Alexandre Herculano, Heliodoro Salgado, Gomes Leal, Victor Hugo, José Ingenieres, Eugen Relgis, George Nicolai, Bertand Russel, Darwin, E. Heckel e trocava conhecimentos com companheiros do Brasil, da Espanha, da França, da Itália, da Argentina, da Rússia da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Alemanha, do Uruguai, do Japão e da Bélgica.

Extraído do livro "AN-ARQUIA: Uma visão da história do movimento libertário em portugal"



KURT WEILL


Kurt Weill nasceu no dia 2 de março de 1900 em Dessau, Alemanha. O filho de um cantor, Weill mostrou talento musical desde cedo. Até o momento ele tinha doze anos, ele estava compondo e concertos de montagem e peças de teatro na sala acima trimestres da sua família no Gemeindehaus. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Weill adolescente foi recrutado como um acompanhante substituto no Tribunal de Justiça Dessau Theater. Depois de estudar teoria e composição com Albert Bing, Kapellmeister do Teatro, Weill matriculou-se na Hochschule für Musik de Berlim, mas não encontrou a formação conservadora e as lições infreqüentes com Engelbert Humperdinck muito sufocante. Depois de uma temporada como regente do teatro municipal recém-formado em Lüdenscheid, ele retornou a Berlim, e foi aceite na classe Ferruccio Busoni mestre em composição. Ele apoiou-se através de uma vasta gama de profissões musicais, de jogar o órgão em uma sinagoga para piano em um Bierkeller, tutoria por estudantes (incluindo Claudio Arrau e Maurice Abravanel) na teoria da música e, mais tarde, contribuindo para a crítica de música Der Deutsche Rundfunk, O jornal do programa semanal da rádio alemã.
Trabalhou muito co Bertold Brecht em canções para teatro.



Bertold Brecht

Escritor e dramaturgo alemão. Adere desde muito cedo ao expressionismo e vê-se obrigado a fugir da Alemanha em 1933, após escrever a Lenda do Soldado Morto, obra pacifista que provoca a sua perseguição pelos nazis. Ao iniciar-se a Segunda Guerra Mundial começa uma longa peregrinação por diversos países.  Em 1947, perseguido pelo seu comunismo militante, vai para os Estados Unidos. A partir de 1949, e até à sua morte, dirige na Alemanha Oriental uma companhia teatral chamada do Berliner Ensemble.

A produção teatral de Brecht é abundante. No conjunto das suas obras tenta lançar um olhar lúcido sobre o mundo moderno. Na Ópera de Três Vinténs dirige o seu olhar crítico para a organização social. Na intenção de actualizar o teatro épico, escreve uma série de obras em que recorre às canções e aos cartazes explicativos: Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, Santa Joana dos Matadores, O Terror e a Miséria no Terceiro Reich, Der Aufhaltsame Aufstieg des Arturo Ui. Em O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti e em A Boa Alma de Sé-Chuão recorre às parábolas do teatro oriental. Em Vida de Galileu, obra que não deixa de aperfeiçoar desde a sua primeira redacção, Brecht centra-se no papel e na responsabilidade do intelectual.
Bertolt Brecht é, além de dramaturgo, um importante teórico teatral. Nos seus Estudos sobre Teatro expõe a sua concepção cénica, baseada na necessidade de estabelecer uma distância entre o espectador e os personagens, a fim de que o ponto de vista crítico do autor desperte no espectador uma tomada de consciência. Destaca-se também na poesia, de forte conteúdo social.


Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
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Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem
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O Vosso tanque General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista


O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
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Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
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"A Excepção e a Regra" é uma peça dos alunos do 3º ano do Curso de Teatro e Educação ESEC, que contou com o apoio da Companhia O Teatrão. A partir de um dos textos mais conhecidos e representados ...